Fénix
Os
pensamentos fluem até pedaços encardidos de alma onde tudo perde o sentido.
No âmago do ser inconsequente e imponderado encontra-se a substância
pensada extinta: resistência.
No derradeiro
abandonar do que já foi aquilo que já não é, deixamo-nos ir de braços e mente
abertos com tal simplicidade que deixamos transparecer cada bocadinho de nós,
até o mais rebuscado. Na frieza da solidão recente a saudade não bate como
esperado, curioso. Sabemos que não perdemos, apenas guardámos para mais
tarde.
Foi-nos
negada a continuação e imposta a pausa e o recomeço. Haveremos de ter sempre o
conforto doirado das memórias e o aconchego azul dos momentos. As cicatrizes
hão-de sarar por respeito e o que se partiu reconstruir-se por amor. Haveremos
de ver por outros olhos aquilo a que os de agora são cegos; expandir
horizontes. No momento da verdade de todas as mentiras involuntárias, admitimos
a crueldade de uma realidade fictícia que outrora fora nossa.
Deixamo-nos
despir das incertezas que atormentam e alimentamo-nos da esperança que tanto
esperamos ter. Quando o bicho nostálgico e negro ameaçar bater à porta,
fugiremos pela janela e iremos com o vento passear por onde já andámos mas
nunca notámos. Haveremos de viajar para tão longe que no dia em que voltarmos
não haveremos de ser iguais, haveremos de ser quem nunca pensámos que fossemos
ou viéssemos a ser. Haveremos de ser livres, abstratos e eloquentes. Haveremos de
ser quem quisermos ser. E no meio da confusão vocabular de uma existência
negligenciada e renegada compreenda-se que este alguém é apenas mais um alguém,
sem nada de diferente: és tu, sou eu, não é ninguém.
Inês Mira
10º D